{natalia bianchi por natalia bianchi}

Nasci na década de 80 na cidade de Caxias do Sul. Desde muito cedo conheci papel, lápis e tintas. Tinha o costume de desenhar pelas paredes de casa e gastava blocos e blocos fazendo desenhos e pinturas. Tive muito contato com desenho de Moda, pois minha avó materna é costureira, assim, corpos femininos e desenhos de roupas foram as primeiras imagens que conheci e reproduzi em meus desenhos no decorrer da minha infância. Na adolescência, mesmo exercendo diversas atividades nunca deixei de lado o papel e o lápis 6B que era meu preferido Ao terminar o Ensino Médio optei pelo curso de Educação Artística na Universidade de Caxias do Sul. Após concluir a graduação cursei algumas disciplinas de Poéticas Visuais e desde então tenho me dedicado a produção artística de forma mais intensa e profunda.

As produções apresentadas neste blog são parte da minha trajetória artística nos últimos anos, nos quais procurei aprofundar questões autobiográficas, diretamente relacionadas a minha percepção visual peculiar. Isso, porque sou portadora de Discromatopsia, deficiência visual que gera cegueira total as cores. O que apresento aqui vai além do que enxergo, nos meus trabalhos eu expresso como sinto aquilo que vejo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

{fitas confessionais}

Estou postando com atraso mas para conhecimento.
Durante o curso de Pós tivemos uma Disciplina com a Prof. Elaine Tedesco onde tivemos de realizar uma Intervenção Urbana..A minha intervenção, que pode fazer as vezes de semi-quase "performance" foi mais uma vez de temática auto-biográfica, abordando questões relacionadas a minhas percepção visual. 
Foi um trabalho diferente, uma nova experiência que pretendo repetir.
Esta Intervenção foi realizada em Novo Hamburgo no dia 24 de abril de 2009.Abaixo vocês podem ver alguns registros e conferir os textos que "prendi" nos troncos das árvores






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TEXTO I – BRAÇO DIREITO
CID (Classificação internacional de doenças)
H35.5  - DISTROFIA HEREDITÁRIA DE RETINA
Discromatopsia: Deficiência que ocorre nas células fotoreceptoras da retina, podendo acometer cones e/ou bastonetes em graus variados.
Conforme os receptores envolvidos, o paciente pode apresentar deficiência na visão de cores de forma variada. Um sintoma muito freqüente é a fotofobia (sensibilidade á luz), e o nistagmo (movimentos rápidos e involuntários do olho de um lado para outro). 
Sou Natalia Bianchi, tenho 23 anos e sou portadora de discromatopsia. Nunca vi as cores como todo mundo, mas ao mesmo tempo ninguém pode ver e perceber o mundo como eu.

TEXTO II – BRAÇO ESQUERDO
Frases do documentário Janelas da Alma de Walter Carvalho

“A minha diferença não é a condição física, mas o modo como enxergo o mundo”
(Evgen Bavcar)
“Ver o mundo é uma aventura curiosa. Acho que cada pessoa vê o mundo de um jeito e que não há dois mundos iguais”. (Walter Carvalho)
"...o que se vê é continuamente modificado pelo que se sabe, se espera, se quer, pelas emoções, pela cultura, pelas últimas teorias científicas..." (Oliver Sacks)
“As pessoas não sabem mais ver, não vêem nada, pois não têm mais o olhar interior, não têm mais a distância. Quer dizer, vive-se uma espécie de cegueira generalizada”. (Evgen Bavcar)
“O olho vê, a lembrança revê as coisas e é a imaginação que transvê, que transfigura o mundo”. (Manoel de Barros)
“Felizmente, a maioria de nós consegue ver também com os ouvidos e ouvir e ver também com o cérebro, o estômago e a alma. Acho que vemos um pouco com os olhos, mas não inteiramente”. (Wim Wenders)

TEXTO III – CINTURA
“Descrições quase poéticas...”
Eu não vejo o tom preciso de verde, mas sei que aquela textura de tirinhas brotando da terra fazem a grama.
Eu não sei se o céu é mesmo azul e as nuvens são brancas, mas vejo pedaços gigantes de algodão clarinho com aspecto fofo sobre um fundo acetinado levemente mais escuro.
Eu não vejo a cor precisa do mar, mas percebo imensas camadas de plástico com bordas esbranquiçadas.
Na praia, céu, água e areia se confundem, quase que como um monocromo, mas a sombra dos desníveis da areia faz machas escuras no chão, os reflexos de sol no mar fazem a água brilhar e o que de mais fosco resta é o céu com pequenos contrastes.
Noite: a escuridão do céu é um tapete de veludo preto com pontinhos brancos, os quais chamam de estrelas.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

{meus escritos - sem pretensão de enxergar as cores}



"Ver o mundo é uma aventura curiosa. Acho que cada pessoa vê o mundo de um jeito e que não há dois mundos iguais" 
(Walter Carvalho)

Não tenho a pretensão de enxergar as cores.Eu enxergo.Não imagino, enxergo mesmo. Mais acinzentadas como talvez ninguém enxergue, só eu enxergo.
Sei seus nomes convencionais, mas meu mundo multi-acinzentado não aceita nomes pré estabelecidos.
Penso que ninguém pode nomear o que não conhece e acabar com o significado múltiplo que uma coisa tem quando não se limita a um nome. Assim, ninguém pode estabelecer nomes para as minhas cores diminuindo-as a uma palavra, quando na verdade são infinitas em sensações
Acho engraçado essa necessidade que muita gente tem de ter que definir as coisas, padronizar, e por fim bater o martelo, acabando com qualquer possibilidade de questionamento ou dúvida. Procuro não ter esse tipo de comportamento. Sempre que posso me entrego a insegurança e ao frio na barriga que o desconhecido proporciona.
Incrível como alguns seres humanos tem dificuldade de entender que cada um tem seu modo peculiar de enxergar o mundo. Cada ser tem sua capacidade de julgamento, de entendimento, de expressão.O grande momento da vida esta em julgar, entender, expressar fielmente o que se pensa e sente e no fim das contas, um minuto ou um ano depois ver que pode mudar tudo outra vez, pensar diferente, agir diferente, ir de encontro ao novo. E que essa mudança não quer dizer que não se sabe o que quer e sim que é necessários expandir horizontes, desbrava-los.
Tudo isso pra dizer que quando comecei a pintar, ainda na faculdade, utilizava as cores, anotava seus nomes nos rótulos das bisnagas e sabia que cor usar com outra, que mistura fazer para obter outra cor. Pintei alguns quadros assim e achava que as coisas deveriam ser assim. Depois de um tempo acabei me tornando insatisfeita com as cores e com a forma convencional como as utilizava. Percebi que não estava pintando cores propriamente, não tinha essa preocupação porque nunca tinha certeza de que cor estava usando, não tinha certeza se a mistura das cores tinha mesmo resultado a cor que eu estava esperando a menos que alguém que me dissesse. Muito mais do que pintar as cores, estava experimentando tons, descobrindo nuances, explorando sensações visuais num campo (in)conscientemente desconhecido. A disciplina de pintura acabou, concluí alguns trabalhos outros ficaram inacabados e jogados num canto bem como minha vontade de mexer com cores.Penso que seria melhor nem saber que não via as cores como todo mundo, nem ter quem me dissesse que deveria usar vermelho com cinza e marrom com amarelo ou alterar neutros e coloridos, assim viveria instintivamente errando para os outros (quem sabe?) "me acertando"  O tempo passou e decidi que iría entender melhor meu mundo acromático, mundo que me parecia tão óbvio, tão acabado em sentido, tão pronto, tão sem questionamentos a serem feitos, tão seguro. Acabei descobrindo que tudo era muito diferente do que pensava. O que esta pronto para mim é o mundo colorido, onde estabeleço relações entre as cores, obedeço (ou não) padrões estéticos, eventualmente caio nos clichês. A cor vem pronta, quente ou fria, mas vem pronta, acabada, variam os tons, mas nunca perdem sua essência de "colorido". Ja a minha infinidade de cinzas é instigante, nunca saberei se conheço todos as possibilidades de cinzas que o mundo tem a me proporcionar, mas continuarei buscando.
No fim das contas embora consciente de que não vejo as cores da forma convencional, acho que seria interessante não ter essa consciência só pra poder ver como meu instinto visual agíria, seria uma experiência interessante.
Acho que foi necessário desenvolver essa consciência no mínimo pra saber a hora de atravessar a rua, entre outras coisas que acabam surgindo no dia-a-dia e que preciso lidar, mas insisto que seria muito interessante não saber de tanta coisa.
Ainda farei um trabalho sobre isso!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

{percepções - pela curadora mona carvalho}

Confiram o texto que a Curadora Mona Carvalho escreveu sobre o meu trabalho para "O Café"
Resumidamente definiu muito bem a minha "porção artista".

Percepções: Obras de Natalia Bianchi


Até mais!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

{meus escritos - reflexões de uma manhã escura e chuvosa}

Quanto mais eu falo de mim pros outros, quanto mais trabalhos eu faço, quanto mais amo, quanto mais novos amigos conquisto, quanto mais coisas descubro, quanto mais choro e me entristeço, mais eu aprendo, mais eu percebo que não sei de nada mesmo, que tem sempre algo a aprender, algo novo para escutar, alguma forma nova de agir...




Percebo que nunca estou pronta e nunca vou estar pq nós seres humanos somos assim, uma escultura modelada pelas adversidades e alegrias da vida, somos sim uma "metamorfose ambulante", o que sou hoje é diferente do que era ontem e será diferente ainda do que serei no futuro.





E essa é a graça da vida, ser uma pessoa inacabada, quem acha que esta acabado acaba caíndo nos clichês da vida, acaba por não viver novas experiências e nem conhecer novas sensações... Quem se diz pronto não sabe como é bom ser inacabado, como é bom não estar pronto, como é bom estar sempre em processo de amadurecimento, como é bom ser infinito!

Minha vida e minha arte são assim... Acho que nunca vou me sentir pronta, sempre estarei amadurecendo... O "meu preto e branco" é assim, sempre me instigando, minha visão é assim, sempre surgem coisas novas que tenho que aprender a lidar, sempre surge uma sensação visual nova, por vezes interessante, por vezes incomoda. Passo meus dias e anos criando novas estratégias de como lidar com situações novas, com a luz direta ou indireta, com os torturantes dias nublados ou com os dias ensolarados e brilhantes que cansam meu olhar. Desenvolvo mecanismos de adaptação, decoro as texturas das roupas pra não trocar as cores, crio mentalmente situações difíceis e formas de lidar com elas, crio maneiras seguras de atravessar a rua no sinal vermelho, penso, penso e não me canso, e reaprendo tudo outra vez como prova de que não sei quase nada, de que a vida é esse infinito de sensações e descobertas!

Os trabalhos acima são do pintor norte-americano Ross Bleckner.
Referência e inspiração para o meu trabalho sempre!

Mais sobre o artista em: