{natalia bianchi por natalia bianchi}

Nasci na década de 80 na cidade de Caxias do Sul. Desde muito cedo conheci papel, lápis e tintas. Tinha o costume de desenhar pelas paredes de casa e gastava blocos e blocos fazendo desenhos e pinturas. Tive muito contato com desenho de Moda, pois minha avó materna é costureira, assim, corpos femininos e desenhos de roupas foram as primeiras imagens que conheci e reproduzi em meus desenhos no decorrer da minha infância. Na adolescência, mesmo exercendo diversas atividades nunca deixei de lado o papel e o lápis 6B que era meu preferido Ao terminar o Ensino Médio optei pelo curso de Educação Artística na Universidade de Caxias do Sul. Após concluir a graduação cursei algumas disciplinas de Poéticas Visuais e desde então tenho me dedicado a produção artística de forma mais intensa e profunda.

As produções apresentadas neste blog são parte da minha trajetória artística nos últimos anos, nos quais procurei aprofundar questões autobiográficas, diretamente relacionadas a minha percepção visual peculiar. Isso, porque sou portadora de Discromatopsia, deficiência visual que gera cegueira total as cores. O que apresento aqui vai além do que enxergo, nos meus trabalhos eu expresso como sinto aquilo que vejo.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

{meus escritos - sem pretensão de enxergar as cores}



"Ver o mundo é uma aventura curiosa. Acho que cada pessoa vê o mundo de um jeito e que não há dois mundos iguais" 
(Walter Carvalho)

Não tenho a pretensão de enxergar as cores.Eu enxergo.Não imagino, enxergo mesmo. Mais acinzentadas como talvez ninguém enxergue, só eu enxergo.
Sei seus nomes convencionais, mas meu mundo multi-acinzentado não aceita nomes pré estabelecidos.
Penso que ninguém pode nomear o que não conhece e acabar com o significado múltiplo que uma coisa tem quando não se limita a um nome. Assim, ninguém pode estabelecer nomes para as minhas cores diminuindo-as a uma palavra, quando na verdade são infinitas em sensações
Acho engraçado essa necessidade que muita gente tem de ter que definir as coisas, padronizar, e por fim bater o martelo, acabando com qualquer possibilidade de questionamento ou dúvida. Procuro não ter esse tipo de comportamento. Sempre que posso me entrego a insegurança e ao frio na barriga que o desconhecido proporciona.
Incrível como alguns seres humanos tem dificuldade de entender que cada um tem seu modo peculiar de enxergar o mundo. Cada ser tem sua capacidade de julgamento, de entendimento, de expressão.O grande momento da vida esta em julgar, entender, expressar fielmente o que se pensa e sente e no fim das contas, um minuto ou um ano depois ver que pode mudar tudo outra vez, pensar diferente, agir diferente, ir de encontro ao novo. E que essa mudança não quer dizer que não se sabe o que quer e sim que é necessários expandir horizontes, desbrava-los.
Tudo isso pra dizer que quando comecei a pintar, ainda na faculdade, utilizava as cores, anotava seus nomes nos rótulos das bisnagas e sabia que cor usar com outra, que mistura fazer para obter outra cor. Pintei alguns quadros assim e achava que as coisas deveriam ser assim. Depois de um tempo acabei me tornando insatisfeita com as cores e com a forma convencional como as utilizava. Percebi que não estava pintando cores propriamente, não tinha essa preocupação porque nunca tinha certeza de que cor estava usando, não tinha certeza se a mistura das cores tinha mesmo resultado a cor que eu estava esperando a menos que alguém que me dissesse. Muito mais do que pintar as cores, estava experimentando tons, descobrindo nuances, explorando sensações visuais num campo (in)conscientemente desconhecido. A disciplina de pintura acabou, concluí alguns trabalhos outros ficaram inacabados e jogados num canto bem como minha vontade de mexer com cores.Penso que seria melhor nem saber que não via as cores como todo mundo, nem ter quem me dissesse que deveria usar vermelho com cinza e marrom com amarelo ou alterar neutros e coloridos, assim viveria instintivamente errando para os outros (quem sabe?) "me acertando"  O tempo passou e decidi que iría entender melhor meu mundo acromático, mundo que me parecia tão óbvio, tão acabado em sentido, tão pronto, tão sem questionamentos a serem feitos, tão seguro. Acabei descobrindo que tudo era muito diferente do que pensava. O que esta pronto para mim é o mundo colorido, onde estabeleço relações entre as cores, obedeço (ou não) padrões estéticos, eventualmente caio nos clichês. A cor vem pronta, quente ou fria, mas vem pronta, acabada, variam os tons, mas nunca perdem sua essência de "colorido". Ja a minha infinidade de cinzas é instigante, nunca saberei se conheço todos as possibilidades de cinzas que o mundo tem a me proporcionar, mas continuarei buscando.
No fim das contas embora consciente de que não vejo as cores da forma convencional, acho que seria interessante não ter essa consciência só pra poder ver como meu instinto visual agíria, seria uma experiência interessante.
Acho que foi necessário desenvolver essa consciência no mínimo pra saber a hora de atravessar a rua, entre outras coisas que acabam surgindo no dia-a-dia e que preciso lidar, mas insisto que seria muito interessante não saber de tanta coisa.
Ainda farei um trabalho sobre isso!

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